segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Uma Dívida Social - EJA

Cury (2000:3) já apontava “... segundo as estatísticas oficiais, o maior número de analfabetos se constitui de pessoas: com mais idade, de regiões pobres e interioranas e provenientes dos grupos afro-brasileiros.”
Lendo este pequeno parágrafo, o parecer CEB 11/2000 e o texto de Martha Kolh de Oliveira, penso: quem são estas pessoas que procuram a EJA hoje para estudar, porque ficaram fora da Escola no seu “tempo normal”? No parágrafo de Cury ainda podemos acrescentar as mulheres, que por muito tempo ficaram fora da Escola por descriminação e voltadas aos afazeres domésticos, e os deficientes que somente hoje estamos trabalhando para sua inclusão.
De acordo com as bases legais vigentes – amparadas na Constituição Federal de 1988 e retomadas na LDB - o princípio chave da educação de jovens e adultos é o que diz que a educação visa o desenvolvimento do indivíduo e o seu preparo para o exercício da cidadania e a sua qualificação profissional.
Então podemos partir do princípio que somente na Escola estes se tornarão cidadãos? E quantos que vemos que trabalham, sustentam dignamente uma família, votam, e não são escolarizados? A educação qualifica, melhora, aprimora o que já existe, levando em conta seus saberes.
Paulo Freire já nos dizia que a Educação de Adultos é melhor entendida quando a situamos como Educação Popular: A Educação de Adultos, virando Educação Popular, torna-se mais abrangente. Certos programas como alfabetização, educação de base em profissionalização ou em saúde primária são apenas uma parte de trabalho mais amplo que se sugere quando se fala em Educação Popular (1995, p. 13-14).
O conteúdo principal da EJA precisa ser a conscientização, o sujeito precisa buscar a leitura de mundo e não só da palavra.
É preciso deixar claro que não é apenas a educação, e no caso a EJA, que vai dar conta de reparar sozinha, esta dívida social. Contudo, é no ambiente da cultura escolar como um espaço democrático de conhecimento que podemos buscar uma sociedade menos desigual, tendo como primeiro passo nesta caminhada o reconhecimento da educação enquanto espaço formal, a escola com qualidade, entendida como um direito civil antes negado para estes jovens e adultos.
A sociedade tem esta dívida com a população, mas não podemos esquecer que o problema não é somente pedagógico e sim social e político, basta olharmos quem são as pessoas sem escolaridade para ver o tipo de sociedade que excluiu estas pessoas. “Esquecemos que o analfabetismo é a expressão da pobreza, conseqüência inevitável de uma estrutura social injusta.” (GADOTTI, 1995, p.28). Que princípios queremos para nossa sociedade, libertador ou igualitária?

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Thais, tendo como base essas reflexões que compartilhas aqui, quais seriam, na tua opinião, os desafios da EJA? Como trabalharias com essa modalidade? Abração, Sibicca